2011-05-16
A Dimensão Trágica da Intriga Principal
Aspectos trágicos
Narrativa de feição trágica:
temática: o incesto
os presságios
o desfecho trágico(catástrofe)
o destino como força motriz que conduz o desenrolar da intriga
Aspectos trágicos presentes na obra (intriga principal):
os essenciais, segundo Aristóteles
→ a peripécia: o aparecimento do italiano/ a súbita mutação dos acontecimentos provocados pelo encontro de Ega com o Sr.Guimarães, que lhe entrega um cofre, para que este por sua vez o entregue a Carlos ou a Mª Eduarda(p.615)
→ o reconhecimento( anagnórise) : os laços de parentesco entre Carlos e Mª Eduarda (relações incestuosas)
→ a catástrofe: a separação dos amantes e a morte do avô (morte social de Mª Eduarda ; Carlos também pensou em suicidar-se, mas não o fez talvez porque a paixão não fosse assim tão intensa como a do pai ou então Pedro era mais fraco(pág. 712) Notar que a catástrofe recai sobre Afonso
ainda podemos acrescentar outros elementos
→ o desafio (hybris): a paixão de Carlos e Mª Eduarda contra os valores morais
→ a superioridade, a excepcionalidade de Mª Eduarda e Carlos, pertencentes à elite, o que faz delas personagens trágicas
Como constatamos as duas intrigas têm desenlaces distintos. Porquê?
- Pedro morre dado o seu temperamento romântico
- Afonso morre porque preza os valores sociais e morais
Notar que nada disto é produto do acaso, mas que já vinha sendo preparado.
1. a força do destino aproxima os dois irmãos, provocando assim a catástrofe
- a escolha do nome de Carlos(38)
- a referência de Ega à mulher que haveria de ser de Carlos(152/417)
- semelhança dos nomes(346)
- a desculpa a dar ao avô pela atracção que sente(516)
- Afonso sente que foi a força implacável do destino que o destruiu (646)
O destino só se abate sobre eles quando encontram a felicidade perfeita, quando tudo se conjuga para facilitar os amores (a condessa de Gouvarinho ausenta-se, Dâmaso parte inesperadamente, e até o portão da Toca já não range. - págs364/457).
Quando? Quando Ega encontra o Sr. Guimarães no Sarau da Trindade
2. os presságios
- a lenda do Ramalhete(7/681)
- a previsão do desfecho por Ega(152)
- as afinidades de Mª Eduarda com o avô (368) e de Carlos com a mãe de Mª Eduarda(471)
- a descrição da alcova(434)
Eça parece assim descrer dos valores da estética naturalista, uma vez que a acção trágica se desencadeia e desenrola, já não por causas lógicas (como no naturalismo), mas mais por factores imprevisíveis ou casuais, comandados por um destino implacável que levará os acontecimentos a culminarem numa tragédia
Marcas da estética naturalista:
→ no desfecho da relação Pedro/Mª Monforte, onde factores de ordem educacional e genética determinam o suicídio de Pedro
→ na atitude de Carlos em continuar o romance com Mª Eduarda, apesar de saber da sua relação de parentesco, fortemente condicionada pela educação materialista que recebeu do avô (“Toda a educação sensata consiste nisto(...)desenvolver exclusivamente o animal(...) tal como se não tivesse alma. A alma vem depois... A alma é outro luxo.”- pág. 63), pelos genes herdados da mãe(egoísta) e do pai(fraco, cobarde) e pelo meio social, ocioso e fútil.
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