Garrett considerou esta obra um drama, por lhe parecer o único género teatral capaz de entusiasmar a gente do século, toda inclinada ao estudo do homem.
Apesar de considerar a história uma verdadeira tragédia, não lhe deu esse nome por:
• o assunto não ser antigo
• não querer escrever em verso , pois parecia-lhe mal não colocar a prosa na boca do melhor orador português
• não ter cinco actos
• não respeitar as unidades de tempo e de lugar
Conclusão: Frei Luís de Sousa obedece à estrutura formal de um drama, mas quanto ao conteúdo é uma tragédia.
Frei Luís de Sousa é uma tragédia quanto ao assunto, porque:
• o número de personagens é diminuto
• Madalena, ao casar sem ter a certeza de que D. João estava morto [ainda casada com D- João já cometera adultério no coração (cena II, 1º acto)], e Manuel, ao incendiar o seu palácio, desafiam as prepotências divinas e humanas (hybris) [inconscientemente MSC participa da hybris de sua mulher]
• uma fatalidade ( a desonra de uma família, equivalente à morte moral), que o assistente vislumbra logo na primeira cena, cai gradualmente (clímax) sobre Madalena, atingindo todas as restantes personagens (pathos);
• contra essa fatalidade os protagonistas não podem lutar (se pudessem e assim conseguissem mudar o rumo dos acontecimentos, a peça seria um drama); limitam-se a aguardar, impotentes e cheios de ansiedade, o desfecho que se afigura cada vez mais pavoroso;
• há um reconhecimento: a identificação do Romeiro (a agnorisis);
• Telmo, dizendo verdades duras à protagonista, e Frei Jorge, tendo sempre uma palavra de conforto, parecem o coro grego.
Mas, por outro lado, a peça está a transbordar de romantismo:
• O Amor como causa da desgraça
• a crença no sebastianismo;
• a crença no aparecimento dos mortos, em Telmo;
• a crença em agouros, em dias aziagos, em superstições;
• as visões de Maria, os seus sonhos, o seu idealismo patriótico;
• o «titanismo» de Manuel de Sousa incendiando a casa só para que os Governadores do Reino a não utilizassem; (cena violenta, aterradora)
• a atitude que Maria toma no final da peça ao insurgir-se contra a lei do matrimónio uno e indissolúvel, que força os pais à separação e lhos rouba. (cena melodramática, de efeito espectacular, com o efeito de mover a piedade /na tragédia clássica nunca se morria em cena)
Se a isto acrescentarmos certas características formais, como
• o uso da prosa;
• a divisão em três actos;
• o estilo todo, do princípio ao fim,
teremos que concluir que é «um drama romântico, com lances de tragédia apenas no conteúdo».
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